Os Sertões do Leste
abi assessoria extraordinária do bicentenário Prefeitura Municipal de Jequitinhonha
OS SERTÕES DO LESTE E A “GUERRA JUSTA” AOS BORUN
A região chamada Sertões do Leste compreendia os Vales dos Rios Doce, Mucuri, Jequitinhonha, São Mateus, Rio Pardo, e era coberta pela Mata Atlântica.
Foi chamada também de região-tampão, pois durante o período áureo da mineração o Governo proibiu a abertura de estradas do litoral para as minas e destas para o litoral. Era uma forma de controlar o roubo e o tráfico de pedras preciosas, diamantes e ouro que daqui saiam ilegalmente. Os postos de vigilância (os quartéis) nas margens dos rios davam proteção à região das Minas.
As únicas vias de acesso permitidas foram os rios. O Jequitinhonha, navegável de Belmonte a Barra do Pontal (na confluência do Araçuaí com o Jequitinhonha) foi guarnecido com quartéis para exercer esta vigilância.
Na mentalidade etnocêntrica deste período, o sertão era habitado apenas por feras, animais perigosos e índios selvagens... ou seja, não era habitado por nenhum português, portanto era despovoado, deserto.
Com a decadência da mineração, a área dos Sertões do Leste passa a ser vista como promissora, como fronteira a ser aberta para a ocupação e a implantação da agricultura. No Jequitinhonha, centenas de famílias desciam das cabeceiras dos rios em direção às matas e começavam a desenvolver atividades agrícolas e pastoris.
A preocupação que se tinha não era com o extermínio dos indígenas, mas em acelerar a conquista desse novo espaço em função da sociedade que crescia e necessitava dela para se expandir. Toda essa faixa de terra, entretanto, estava ocupada por povos guerreiros que ali haviam demarcado seus territórios e não davam nenhuma demonstração de que seriam facilmente desocupados. Os investimentos particulares estavam sempre ameaçados pela posição dos indígenas, os quais se negavam a serem transformados em escravos e em mão de obra.
Dos documentos da época constam várias propostas para solução desse problema, entre elas: exterminar os indígenas que resistiam; incentivar a mineração no rio Doce; incentivar a agricultura; incentivar o comércio.
Os “interessados em investir na região não perdiam tempo, escreviam cartas, davam queixas e pediam providências urgentes. Não só pelas pressões, mas em função de toda uma política expansionista de ocupação e colonização de novas áreas, D. João VI, logo que se instala no Rio de Janeiro, declara GUERRA JUSTA AOS BORUN”.
(Fonte: Soares, Geralda Chaves , “Na Trilha Guerreira dos Borun”, Instituto Metodista Isabela Hendrix, Belo Horizonte, 2010)